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Contudo, colorir o próprio estilo ou estética pode ser frustrante. O receio de ter uma reação negativa das pessoas e de enfrentar resistência no ambiente profissional é uma questão. O Maurício Sousa, analista de Marketing de 24 anos, sabe bem o que é isso. Recentemente, ele resolveu pintar o cabelo. Vontade nunca lhe faltou. "Só que havia essa questão do emprego. Trabalho em uma agência de publicidade, mas mesmo assim tinha receio de dar errado. Como eu tive a oportunidade de trabalhar de casa, acabou o temor de que algum colega ou chefe visse um resultado ruim", conta o rapaz de cabelo laranja.

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Já a bióloga Cecília, além de enfrentar problemas no emprego, teve que ouvir comentários negativos em casa. Quando ela fazia estágio em área de turismo, o cabelo fez com que perdesse a seriedade mediante o padrão de comportamento do ambiente profissional. "E em casa, quando pintei pela primeira vez, fui questionada pelo meu pai se eu queria fazer curso de palhaço. Mas depois ele se acostumou porque eu vivo pintando", desabafa a jovem.

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Esses relatos reafirmam um dos paradoxos da modernidade que prega a liberdade do indivíduo ao mesmo tempo em que mantém normas sociais que a limitam. A partir de um ponto de vista liberal, o consumo moderno é uma forma de ser livre, mas costumes de ordem individual podem sofrer sanções sociais. Contudo, Mesquita acredita que hoje os cabelos coloridos têm uma aceitação maior. "Principalmente em ambientes onde a criatividade e a singularidade são valores vigentes no grupo. Já em ambientes mais tradicionais, pode ser mais complicado".

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INFLUÊNCIAS

pROCESSOS

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E essa vontade não vem do nada. Mestranda em Botânica, a bióloga Cecília Pereira, de 24 anos, encontrou em artistas famosos inspiração. Hoje em dia, o cabelo vermelho completa seu estilo grunge, bem rock alternativo dos anos 90. "Eu fui influenciada por uma cantora muito conhecida dos anos 80, a Cyndi Lauper, que pintava o cabelo de laranja, rosa e vermelho. E inclusive eu até pensei em fazer o mesmo corte que o dela", revela a jovem que tinge o cabelo desde os 8 anos.

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Quem também tem suas referências é Vanessa. As mídias sociais são importante plataforma de influência, permitindo que a modelo se inspire na youtuber Lindsay Wood, conhecida pelas madeixas coloridas. "Vejo uma certa liberdade de ser quem realmente é. Ela me incentiva a sempre que estiver com baixa autoestima, ou apenas enjoada mesmo, ter coragem de mudar algo em mim para que eu me sinta bem de novo".

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Vanessa é um exemplo do consumidor contemporâneo. Conectado o tempo inteiro às mídias digitais e especializado pela cultura do consumo, não faltam informações para a composição da identidade. A antropóloga Mesquita destaca a mudança de paradigma no que se refere aos modelos de comportamento. "No século XX já víamos essa influência de astros de Hollywood clássica, por exemplo. Atualmente, a busca por referências é pela internet, e nem sempre por celebridade do tipo 'clássico', mas por influenciadores digitais".

Superando esses questionamentos pré-pintura (Pinto ou não? Tem a ver comigo? Sofrerei preconceito? Como vai afetar minha vida profissional?) a pessoa que quer tingir as madeixas precisa ficar atenta aos processos para se chegar à cor desejada. Com a possibilidade de qualquer um produzir conteúdo e postar na internet, muitos jovens acabam aprendendo a pintar o cabelo a partir de vídeos ou publicações em blogs. Mas não é o que aconselham profissionais como Victoria Freitas.

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"O ideal é colorir no salão porque a maioria trabalha com tintas profissionais. Mas caso for pintar em casa, é preciso escolher uma tinta que tenha algum ativo para nutrir o fio", explica a esteticista que trabalha com cabelos há 6 anos. O acompanhamento do processo por quem entende de coloração pode evitar frustrações e arrependimentos. "Nós conseguimos analisar se realmente combina com as feições, tom de pele e até mesmo com a personalidade", garante Victoria.

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Quem teve que recorrer a um profissional para mudar a cor dos fios foi Lucas Palomo, estudante de Jornalismo de 22 anos. Depois de uma tentativa de descolorir o cabelo em casa com a ajuda de amigos, precisou da Victoria para completar sua mudança de visual e sair da zona de conforto. "Meu cabelo era virgem. Não tinha uma gota de química nele. De primeira, não tive medo de colocar os produtos, apenas fiquei ansioso com o resultado final", revela o jovem platinado. E não para por aí. Cuidados são necessários para manter os fios e a personalidade multicolorida hidratados.

identidade

Como é o caso da colorida laranja Vanessa Freitas, de 17 anos, estudante do ensino médio e modelo. Começou a pintar o cabelo quando tinha 12 anos após a irmã se tornar cabeleireira. Conforme a personalidade da adolescente se transforma, ela procura evidenciar isso fisicamente. “Busco qual cor vai combinar mais comigo nessa nova fase. Se eu não estiver com o cabelo diferente, é como se não fosse eu mesma. Preciso estar em mudança constante para me sentir bem”.

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A jovem sempre foi ligada à moda. Ao perceber uma tendência, tentava fazer em casa com a ajuda da irmã. Começou pela rosa, uma de suas cores prediletas, e passou pela azul por causa de um acidente na mistura de tintas. Mas foi essa falha que fez Vanessa adotar um estilo mais alternativo. Hoje usa o cabelo da cor laranja. “Gosto desses tons porque posso combinar com vários tipos e tonalidades de roupas: cor de rosa, vermelha, vinho. Laranja é uma cor mais criativa!”.

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Quem tem um cabelo que se encaixa nessa paleta de cores é a estudante de Publicidade e Propaganda Mariana Medeiros, de 25 anos. A universitária entrou na onda de tingir os fios há quatro meses. Sentia-se atraída por esse estilo há bastante tempo, por isso resolveu pintar esse ano. Para ela, mostra sua personalidade, mas não define a identidade. “É indiferente para a construção dela. Na realidade, é um conjunto de componentes. Não vai ser um cabelo que vai formar minha identidade.”

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Mas este fator é importante para algumas pessoas. Márcia Mesquita, antropóloga e professora do curso de Design de Moda da Universidade Veiga de Almeida (UVA), acredita que a preocupação com a aparência contribui para expressar as identidades, subjetividades e personalidades do indivíduo. "Pintar o cabelo de cor fantasia já é bem comum, então acho que não tem a ver com ato de rebeldia, como já foi num passado recente, mas sim com uma forma de experimentação identitária".

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